No Plural

Parecemos duas crianças egoistas
daquelas que comem o doce escondido num canto da sala pra que nenhum amiguinho peça
Parecemos dois ignorantes deixando voar da mão esse nosso poder todo
poder que não é pra muitos, é de poucos, poucos e bons
Parecemos feijão e arroz combinando perfeitamente e ainda enfeitando o prato
fundindo-nos aos poucos, quentes e ricos de boas coisas que fazem bem à vida
Parecemos saudade e distancia aproximando-nos sempre que preciso for
sem nos importarmos com as horas, a chuva e a cidade nesse caos constante, sem termos medo
Parecemos dois velhos corocas xiando pra todos os lados, por tudo, qualquer coisa
gritando e resmungando um com o outro nos perguntando como nos aturamos por tanto tempo
Parecemos dois jovens rebeldes que fogem de casa em busca de algo novo num dia bonito de domingo a tarde
mas sem saco pra aturar gente lerda andando na rua, os velhos sentados na praça
Parecemos eu e você
eu inconstante acordando a cada dia com um novo rosto, sentimento, problema mas ainda assim sem juizo
você forte e previsível com a barba por fazer e o rosto com marcas de travesseiro, carinhoso me esperando ligar
Parecemos com a vida, o amor, a compreensão, a sorte, a saudade, a dor, as boas coisas, as coisas ruins, as crianças e os velhos
Parecemos com o mundo
somos um plural desde muito tempo, desde antes de nascermos, parecemos eu e você
eu e você pra sempre meu amor