quarta-feira, 31 de março de 2021

ANICCA

Nos últimos anos tenho entrado em um corredor de lembranças 
que preciso reorganizar e por em ordem
preciso me esforçar pra entender, me soltar pra sentir de novo só que diferente
e reorganizar é tanto de tempo, quanto de coerência
como se todos esses anos de mim estivessem embaralhados
faltando partes, se escondendo ou fugindo, portas e mais portas pra abrir.

Já disse e me disseram que era nina, menina, pequena, tuca, shhrup, ruiva, morena, leka,  Alessandra com sobrenome, Alessandra sem sobrenome, Ale, lele
todas eu dentro desse fenômeno de ser pessoa, humana, mulher, mãe, que sangra, que grita, que geme, sente, mente e sorri, some e morre, volta e do nada dança e ri alto,
chora muito mas vem chorado pouco
por algo maior que não me deixa.

Tenho colocado em páginas tudo o que já consigo nomear, rastrear de mim, de tempo, recordar e encontrar explicações mesmo que não
aceitar o que eu nem lembrava que tinha escondido, que rejeitava no inconsciente
que agora vem em sonho, só vem e eu agarro com as unhas e os dentes

Tá tudo tomando forma com o tempo, como se eu me encontrasse com outra eu que já sente e prevê, que percebe e adianta o susto
intui e reage, me sussurra baixo o que eu preciso escutar
me mostra nítido o que eu preciso enxergar 
me pega pelas mãos em todo o meu breu 
me faz atravessar todas essas versões
confiando em cada passo, me pedindo por favor pra continuar 
pra eu chegar no meu próprio colo e
deitar pra descansar desses anos todos 
que trabalhei pra me (re) construir




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