E mais uma vez você me esperou chegar, empolgado dizendo preu ir logo
Cheguei no espelho do elevador e o peito aliviou, instantâneo.
Subi e vi teu tapete amarelo na porta, uma luz bonita no final do corredor e silêncio, que logo a gente ia quebrar.
Apertei a campainha leve, querendo logo entrar pra te apertar.
E cê tava lá, entregue, de pé em frente a porta. eu já ria o caminho todo só de imaginar
Cê ameaçou sair pro corredor do jeito que tava e eu apavorada que sou, te puxei pra dentro!
"cê é doido!"
Não me lembro se te abracei ou se você me beijou entre uma risada e outra, são tantas chegadas na tua casa...
Só me lembro bem da sensação boa que foi poder encostar em você de novo. Nada diferente de todos os outros dias que te encontro.
Te passei as compras que fiz, umas besteiras e gordice porque sim, cê diz que quer evitar mas ama quando tem!
Lembro que cê disse que tava pegando sol na varanda mas que eu não chegava nunca e daí entrou e, de novo eu ri por saber que você me espera.
Eu tava na tua frente, enquanto cê terminava de contar da senhorinha na janela do andar de baixo, te dei um abraço. Com a cabeça bem no teu peito, cê segurou minha mão e eu nem sei direito, quando vi a gente tava dançando.
Colados, com algum som que vinha lá da praça.
Entrei pro banho, aproveitei mais uma vez o chuveiro gostoso mas pensando em sair logo pra enfim deitar do teu lado.
E acontece que a gente junto é uma euforia calma, lenta mas bagunçada e tudo fica tão claro, todos os encaixes, gemidos e até os gritos. A gente perde o folego, a gente curte a paisagem, a gente viaja sem sair do lugar, a gente se empolga e se entende. A gente aproveita os segundos, faz o que tem vontade, a gente se olha tão certo, a gente se faz tão bem...
Daí quando a gente viu, o dia passou, a gente sorriu, fez tudo que quis sem por os pés lá fora.
Esquecemos os planos, os combinados, as ideias mirabolantes, as ameaças de whatsapp simplesmente por saber que nada precisa ser antecipado. O que acontece é o sentir, é ele quem manda e resolve os encontros.
Dá a direção, diz pra onde vamos.
Basta sentir do teu lado que todo o resto acontece fácil, sem ter que pedir.
E quando já era tarde da noite, corremos pra dançar, olhar pessoas, trocar afeto, salivar poraí.
Rebolamos entre as batidas, dançamos um no outro, invadimos um banheiro, fizemos indecências apoiados em paredes vermelhas, perdemos o rumo sem sair da estrada.
Amanhecemos.
Era domingo a tarde, o sol já tava na cama, calmaria na palma das mãos, um mundo lá fora já sorrindo cedo.
Entre os travesseiros cê tava descabelado, cheio de cachos emaranhados, os braços no rosto sem forças pracordar...
O castanho dos olhos brilhando com o sol e eu juro, eles falaram comigo.
Antes mesmo de você despertar, antes mesmo de me dar bom dia, conversamos em silêncio.
E ameacei levantar depois de alguma conversa que não lembro, talvez os planos pro domingo de paz e você me pediu "fica mais um pouco, deita aqui em mim" e como negar? Cê me desconserta.
Me ajeitei entre o braço e o peito e fiquei. Quieta, no lugar que tem me feito descansar das pancadas, dos dias tortos e dessas semanas arrastadas.
Programamos o dia, enrolamos na cama, enfim busquei o sanduba dormido na geladeira e parti em dois.
Entre nossas risadas, a coca cola que cê esqueceu no congelador, a batata frita murcha do jeito que eu gosto, as mordidas com todo amor no pão. Uns detalhes.
E saímos, enfim!
O roteiro era almoçar com seus pais, buscar as bikes, rir com eles do seu penteado novo, pedalar até Ipanema, eu usar capacete e quando chegar, tomar água de coco.
"Decepção" foi a palavra do dia! Seus pais sempre bem humorados e a mesa sempre cheia de risadas e comida boa.
Descemos a ladeira, cê me colocou pra treinar com a bike do seu pai numa rua sem saída com medo deu morrer entre os carros, dei duas voltas e confiei.
"Vai na frente e não se assusta se eu gritar"
e te segui nas ruas da cidade, entre asfalto, carro, gente, farol, ciclovia e calçada.
O Sol tava se pondo, já era quatro e meia da tarde, o dia tava lindo e você alaranjado, mais ainda.
Não morri, você sorriu a tarde toda, minhas mãos e ombros doíam mas eu não podia perder essa viagem por nada!
E chegamos, prendemos as magrelas, andamos em direção ao arpoador. Achamos nossa água de coco, cê inventou de dar um mergulho, eu nem arrisquei acompanhar. Tava linda a vista da praia com você no mar.
Sua volta foi espetacular, molhado e com o olhar fixo em mim enquanto arrumava o cabelo. Parou do meu lado e soltou "Que ideia estúpida"
tão você!
Andamos até chegar nas pedras, subimos, curtimos o laranja e o azul meio cinza, te abracei por trás.
Entre um trago e outro, cheios de calmaria falamos pouco, observamos todo aquele tanto.
A onda batendo lá nas pedras e na gente, uma saída de mestre e foi, daí pra frente estávamos crianças.
Tudo era motivo, tudo causava risada. Cê falando diferente e eu andando esquisito.
Me lembro de te agradecer em pensamento, me lembro que te reparei bem mais nesse dia.
Já tava escuro quando bateu a fome, a sede de uma cerveja, a de sempre pra gente fechar bem.
E QUE PIZZA!
e que onda que cê me fez passar...
A volta, pra variar, uma graça.
Três andares de escada rolante, duas bikes, dois chapados e um copão de ovomaltine depois de 4 fatias e meia de pizza pra cada.
Gordinhos, atrapalhados, felizes e sorridentes
Chegamos todos bem, entre arranhões e olhos pesados.
Um banho, um sexo fogo, o carinho de sempre, teu peito, eu nele e silêncio.
As mãos cansadas, dadas na calçada.
O metrô, o ultimo beijo.
"vai logo, tem que buscar a cria"
Saiba, foi lindo fazer história com você.